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SER PROFESSOR... DE FÍSICA... NA UNIVERSIDADE...

SER PROFESSOR...

É complicado “explicar” mesmo o que é ser professor... talvez mesmo porque todos parecemos saber, pois todos já tivémos professores, ao longo da vida. E não há nada mais complicado de explicar do que aquilo que todas as pessoas (julgam que) sabem!

Claro que ser professor é uma (espécie de) profissão... mas isso só por si não mostra o carácter único desta profissão. Por isso, deve ser certamente mais alguma coisa...

Pensando bem, ser professor é uma (espécie de) forma de vida: tem algo que mistura uma forma de convivência prolongada (com os “alunos”, criando-se mesmo com alguns uma certa relação de amizade) com um estado de espírito (simplificar a explicação do que é mais complicado) e uma vontade (um tipo de “mania” de transmitir isso a toda a gente, sobretudo aos tais “alunos”! ). Talvez só seja comparável às profissões associadas à saúde (médicos e enfermeiros)... mas as pessoas que se relacionam com os profissionais deste sector, à excepção dos de obstectrícia, geralmente encontram-se em situações pessoais problemáticas (daí se chamarem “pacientes”), o que não será o caso da generalidade dos alunos. Há ainda uma outra semelhança: os médicos e enfermeiros trabalham para diminuir a doença (que lhes dá emprego), e os professores para fazer recuar a ignorância (que igualmente é o que lhes dá emprego!).

Mas ainda há algo de “obstetra” nos professores: na cabeça (e no coração também) dos alunos ajudamos a gerar uma nova vida, fruto da aventura que é a abertura do espírito ao CONHECIMENTO e à INFORMAÇÃO – mas não somos nós que a produzimos, só auxiliamos a que eles próprios a atinjam...

Finalmente, há muito de paternidade (e maternidade) nos professores: recebemos os alunos ainda “pequenos” (alguns mesmo muito pequenos, mesmo bebés, ou crianças, outros, como eu, na Universidade, já “pequenos jovens adultos”), cheios dos pequenos/grandes sonhos, medos inseguranças e ignorância próprias de cada idade, e normalmente acompanhamo-los ao longo de períodos relativamente longos (e altamente relevantes) das suas vidas, de certo modo como fazemos com os nossos próprios filhos! E muitas vezes os revemos muitos anos depois, irreconhecíveis à primeira vista dado terem avançado na idade... e são sempre eles, os eternos “alunos”, que nos saúdam e se nos dirigem, com um misto de orgulho e reconhecimento - “professor, eu fui seu aluno (sua aluna)” – que retribuímos com gosto – “eu fui professor dele (dela)!” Por vezes estabelecemos mesmo relações com os descendentes dos nossos alunos, anos mais tarde (uma espécie de “netos-alunos”...), como só as relações de amizade e familiares proporcionam!



... DE FÍSICA...

Considero-me perfeitamente “insuspeito” para afirmar que lecciono o tema científico mais interessante e relevante para o futuro da Humanidade... e que, bem no fundo, tudo é Física!

Será que existe mais algum domínio do conhecimento científico que explique como funciona o “trânsito” dos planetas, estrelas, cometas, e mesmo das galáxias no espaço acidentado do Universo?

Conhece-se alguma outra Ciência que recue na “História” mesmo mesmo até às primeiras “coisinhas” que nos deram origem, numa grande “explosão” denominada de “Big Bang”, e que nos permita observar hoje luz enviada há milhares de milhões de anos?

E não é que a mesma Física quer “contar” as partículas (ditas “átomos”) que existem na cabeça de um alfinete (e que são mais do que os segundos da idade que tem o Universo), movê-los, estudá-los e observá-los praticamente um a um... ainda por cima sabendo que, se os não observasse assim, eles poderiam comportar-se diferentemente?

E foi esta mesma Física que, além de explicar como se movem os nossos automóveis, barcos e aviões, nos deu, só no século passado, entre muitas outras invenções, os transistores, as fibras ópticas, os lasers, etc. com que lidamos todos os dias, porque integram praticamente todos os equipamentos que utilizamos?



... NA UNIVERSIDADE...

A Universidade é (ou devia ser) o local por excelência onde se fazem todas as perguntas – sim, mesmo as que (aparentemente) nem têm sentido! -, se buscam as respostas (possíveis...e “impossíveis”!), e se imagina e “espreita” para o futuro sem “amarras mentais” ou medos do desconhecido... porque é mesmo para estudar o desconhecido que as Universidades existem! A Universidade é, portanto, (ou devia ser)o berço da criação do conhecimento e da inovação... e “alimenta-se” das inteligências dos seus professores e alunos, a quem aqueles vão transmitindo o “património” fundamental que guardam: a DÚVIDA e o questionamento sistemático e permanente, base de toda a cultura científica, que gera toda a inovação e o progresso para o futuro!

Um Físico que ensine na Universidade tem de ser também um cientista, ou seja, criar o seu “bocadinho” próprio de conhecimento novo (chama-se a isso “doutoramento”, na primeira vez que o faz!), para juntar ao enorme edifício global do conhecimento científico do Universo e da Vida, que todos juntos, e de forma partilhada, vamos construindo: tal como em muitos outros aspectos da vida, também na Ciência há os que contribuem para este “edifício” com enormes “vigas de betão”, como há os que trazem a sua “areiazinha” para ajudar a produzir o “cimento” da construção... e todos são importantes!

A arte de um professor (de Física) na Universidade consiste em fazer participar os seus alunos (no fundo, colegas mais novos em formação) na excitação e entusiasmo dos temas que investiga, do dia a dia da vida no laboratório, transmitir-lhes o espírito da dúvida e da interrogação, que é a base de toda a descoberta... é incutir-lhes o gosto e torná-los parte desta enorme aventura humana que é a Ciência!

Consegui-o? Esta é uma pergunta que só os meus alunos podem responder, de certo modo.

A única coisa que posso afirmar, pela minha parte, é que VALEU A PENA!...

M. Pereira dos Santos
(2010.02.06)
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